quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Minha menina

Era jovem e burra, a menininha. Loira, bronzeada, piercing no umbigo na barriga saliente. Dançava com voracidade algo duvidosa. Usava um perfume enjoativo, doce, daqueles que são capazes de empestar um elevador por horas. Vestia jeans e bustiê de paetês prateados. Tinha seios gigantescos, ainda que fosse mirrada e magrinha e não tivesse um e sessenta de altura, mesmo de salto alto.

Era prazeiroso assistí-la balançar os quadris sem ritmo algum. Como alguém que sacode as mãos no frio, só isso. Os paetês organizavam-se num padrão que me lembrava a bandeira de algum país. Seus peitos sacudiam-se, nus, desavergonhadamente livres dentro do bustiê e ainda sobravam para os lados.

Reparei que ela não levava bolsa e suas calças não tinham bolso. Paguei-lhe uma caipirinha e perguntei-lhe a idade. Pude perceber que não tolerava destilados.
Ela respondeu que tinha dezoito. Duvidei. Devia ter treze. Mas eu não interessava a ela. E a mim, só me interessava observar. Então sentei no bar só para reparar no quão decadente falsas virgens podem ser.

Que menininha safada, os rapazes deviam pensar.
Não deveria estar ali, mas estava, toda embriagada de hormônios pubescentes e cerveja quente.

Era mesmo bonitinha, essa menina, tinha umas coxas grossas e uma lordose enorme. Escorregava nos saltos, levantava e piscava para ninguém. Suas unhas eram roídas e o batom lhe causava alergia - sua boca estava toda inchada e vermelha.

Não era puta, não dava por dinheiro, mas não gozava quando trepava, nem devia saber como é. Podia ser menina de família; teria uma casa e um quarto decorado em motivos infantis. Ou talvez morasse na rua e o que eu antes sentira como perfume enjoativo misturado a suor fosse maquiagem barata e cola.

A música mudou; ela devia estar drogada ou bêbada, porque não percebeu que devia mudar o ritmo também. Continuou rebolando com as mãos nos joelhos até dar a todos uma boa amostra da calcinha preta de nylon que usava sob a calça justa. Continuou dançando assim por mais uma hora, durante a qual a música foi se tornando cada vez mais lenta, até que só sobrassem casais na pista. Cansada, ela resolveu ir embora.

Segui-a até o banheiro. Entrei. Fingi retocar o batom. Ela urinava na cabine oposta. Quando saí, identifiquei-me como aquela que lhe oferecera uma bebida. Ela sorriu-me com desdém e foi saindo.
Antes, porém, ofereci uma carona. Pareceu pesar os prós e os contras de aceitar a corona de uma estranha. Devia morar longe, porque cedeu. Fomos até meu carro. Seu nome era Ana Luíza. Confessou-me que não tinha realmente dezoito anos, mas quinze.

Ana Luíza bocejou duas vezes antes de cair no sono.




Liana Borges

Um comentário:

  1. Eu adoro essa sua literaturafotografia.

    um flash de um momento.
    E só.

    Lindo lindo lindo.

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